segunda-feira, 27 de setembro de 2010

As crianças e a política

O ano era 1992. Estávamos todos nas ruas, com as caras pintadas e bandeiras nas mãos. O que reivindicávamos? Não fazíamos a menor idéia! Éramos apenas crianças, inseridas inconscientemente em um dos momentos políticos mais importantes do Brasil.

A palavra impeachment soava engraçada, e representava toda aquela movimentação, que para nós era uma grande brincadeira.

Cresci com essa lembrança, e ela me veio à tona quando fui registrar uma caminhada de candidatos por dois bairros da cidade. A intenção era fazer um trabalho documental sobre campanhas dentro de bairros menos favorecidos. No entanto, após algumas fotos, passei a me interessar em fazer o registro de algo que me soava nostálgico: as crianças que participavam da política, sem saber o que aquilo significava.

Muito embora alguns candidatos usem das crianças como um instrumento para parecerem mais amáveis, e assim angariar mais votos, para elas nada disso tem importância. O carro de som, os adesivos, as bandeiras, aquela figura que cumprimenta e beija todo mundo, é apenas diversão.

Para os pequenos não importa se a bandeira é vermelha, amarela ou verde. Tudo é lúdico, independente das siglas e números marcados naquele adesivo que ela acabou de colar na bicicleta.

O momento mais marcante foi quando um menino de 10 anos, com o rosto e o corpo cheio de adesivos, carregando uma bandeira na mão, e que nos acompanhara uma parte do trajeto, me perguntou:
- Tio, me explica uma coisa: o que nós estamos fazendo aqui?

Foi o momento que me lembrei de 1992, quando eu também balançava uma bandeira e tinha o rosto pintado, mas não fazia a menor idéia do que estava fazendo lá.

(Antes de qualquer pré-conceito ou julgamento, afirmo que este foi um trabalho documental apartidário, com intento puramente artístico)










quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Cotidiano - Pequenas preciosidades ocultas na habitualidade dos seres








Muito além das manifestações grandiosas da natureza, dignas de contemplação e admiração, nosso universo é composto de pequenas frações temporais de espetáculos , invisíveis aos olhos dos que não são dotados da sensibilidade em perceber a beleza do cotidiano.

Cabe ao fotógrafo imortalizar, através de suas lentes, esse fragmento singular. Ele o traz novamente à vida. Dá contornos, sombras, luz e formas. Àquele instante agora está vivo, e o chama de fotografia. A mobilidade dos seres e sua finitude, agora se tornou imóvel e eterno. Há, neste momento, o registro daquilo que não volta mais, que não se pode mudar, que não se pode mais ver.

O fotógrafo apropria-se do instante alheio, seja a alegria de uma criança que brinca, o trabalho diário do homem, as ondas que estouram nas pedras, as pessoas que transitam, os devaneios musicais de um mendigo, os pássaros que descansam sobre o fio.

Tal qual um autor musical que escolhe suas notas para uma canção, cabe ao fotógrafo a sutil decisão de sua composição. Ele escolherá o instante exato de registrar o momento e assim, então, criar a sua obra.

A partir deste momento o cotidiano também virou arte perante os olhos daqueles que apenas enxergam, mas não vêem. O dia-a-dia deixou-lhe de ser fugaz, sua rotina não é mais transitória, a efêmeridade agora lhe é eterna!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010


O Primeiro Post

O primeiro post de um blog normalmente propõe-se a explicá-lo. Com o meu não poderia ser diferente, embora sempre busque fugir do senso comum em tudo que faço.

Quando iniciei a construção deste, incentivado por amigos, comecei a pensar que tipo de material apresentaria aqui.

Não me sinto maduro o suficiente para poder falar de técnicas fotográficas, apesar de considerar a troca de experiências, mesmo para iniciantes como eu, muito válida. Parto do princípio que mesmo o mais experiente, em qual área for, sempre haverá de aprender algo com àquele que está apenas no início de sua caminhada.

Portanto, a princípio, este blog não se propõe à explicar técnicas de fotografia, talvez expor de forma instrutiva a construção de uma determinada imagem, mas passando longe dos tutoriais (tão necessários e úteis) que permeiam os blogs de altíssima qualidade disponíveis na internet.

Também não pretendo somente postar imagens, sem que haja a construção de algum texto, ou mesmo uma pequena explanação. Entretanto, não pretendo ser cansativo, escrevendo diversas linhas, que são abandonadas ali pelo terceiro ou quarto parágrafo.

Busco o equilíbrio entre a apresentação dos meus registros fotográficos e da construção dos meus pensamentos. Falar fotograficamente é o que almejo!

Sejam bem vindos!

Diogo Ramos